Este blog foi montado com o intuito de retratar experiências de professores de SwáSthya Yôga que dedicam suas vidas a praticar, ensinar e difundir esta fantástica filosofia de vida.



sábado, 21 de junho de 2008

Geração Windows: de quantas janelinhas precisamos para viver?



Estamos realmente vivendo na era das conexões. Mas será que já não estamos criando uma dependência submissa a este padrão? No final do milênio passado, com apenas um telefone em casa e outro no escritório, nos sentíamos totalmente seguros de que as pessoas importantes nos encontrariam sempre que necessário. Então, surgiu o telefone móvel. O novo brinquedo tornou-se rapidamente um acessório inseparável, com espaço garantido na bolsa ou no bolso para ser sacado rapidamente quando alguém nos solicitar. Dar uma volta no quarteirão sem ele? Nem pensar! Afinal, não queremos deixar ninguém importante sem a nossa atenção.

Em seguida, com a acelerada popularização do computador pessoal, a internet conquistou o território global nos trazendo novas e fascinantes possibilidades de interação. Quem diria que a nossa correspondência atravessaria o planeta em apenas alguns segundos? O e-mail produziu este milagre e nós gostamos tanto dele que chegamos a ficar deprimidos nos dias em que ninguém nos envia nada. Mas o e-mail, assim como a correspondência tradicional, tem as suas limitações. Nunca sabemos, ao certo, se as informações estão sendo recebidas e consideradas. Felizmente, conseguimos resolver também este problema. Bastou instalar um programinha low-profile de mensagens instantâneas que nos emite um aviso sempre que alguém precisar estabelecer um contato. Agora, podemos nos comunicar por teclado ou mesmo por voz instantaneamente, dando aos nossos amigos muito mais confiança de que estamos disponíveis sempre que precisarem. Que bom! Afinal, não queremos deixar ninguém importante sem a nossa atenção.

Mas nosso desejo por conexão ainda não parou por aí. Conversar com nossos amigos pode ser bom, mas pode se tornar, rapidamente, uma experiência maçante. Desejamos também ser amigos dos amigos dos nossos amigos. Recentemente o Orkut, uma "comunidade online que conecta pessoas através de uma rede de amigos confiáveis", preencheu este nosso vazio existencial. É claro! Não queremos deixar ninguém importante sem a nossa atenção. Nem mesmo os amigos dos nossos amigos.

Assim, entramos no terceiro milênio: intoxicados de informação e superocupados com chamadas telefônicas em qualquer lugar e hora, lendo e respondendo dezenas de e-mails por dia, teclando com uma legião de pessoas que pipocam de minuto em minuto na tela do nosso computador e ainda tendo que administrar centenas de contatos e comunidades no Orkut. Somos a geração windows. Compramos a idéia de que viver intensamente é manter mil janelinhas abertas ao mesmo tempo com o mundo à nossa volta. Porém, o nosso organismo, assim como um hardware, tem seu limite de processamento. A partir de uma certa quantidade de janelinhas abertas, o sistema biológico começa a travar e apresentar seus sinais de alerta. Num texto clássico da Índia, datado do século III a.C., o sábio Pátañjali já afirmava que a infelicidade, a depressão, o nervosismo e a respiração irregular são sintomas da dispersão mental. Incrivelmente atual, não parece? De fato, temos dispersado tanto as nossas vidas que acabamos deixando alguém realmente importante sem a nossa atenção: nós mesmos.

Precisamos reaprender a viver. Desintoxicar nossa mente saturada de tanta informação para identificar o que realmente importa para nós. E que tal começarmos agora mesmo? Convido você a cometer um ato que, dado o contexto, é deliciosamente subversivo. Experimente isso: desligue todos os telefones fixos e móveis. Desligue a televisão e o rádio. Desconecte a internet. Vamos lá, você consegue! Sente-se confortavelmente com a coluna ereta e mantenha a respiração fluindo profunda e espontaneamente. Sua atitude corporal, neste ponto, é uma mistura equilibrada de soberania e simplicidade. Então, feche os olhos, sorria um pouco pelo seu atrevimento e permita-se abrir uma janelinha para si mesmo, só por alguns minutos. Sim, você pode se dar ao luxo. Agora, vem o mais poderoso: sinta-se merecedor deste momento, sem culpas, sem remorsos. Por vezes, é preciso dar um tempo. Tenha a convicção de que nenhuma pessoa neste mundo será capaz de suprir a atenção que só você pode dar a si mesmo. E o mais significativo: compreenda que as pessoas que você ama ficarão ainda mais felizes ao perceber o seu bem-estar e sua felicidade. Pronto! Você acaba de fazer algo verdadeiramente libertador. Se quiser, volte a conectar toda a parafernália novamente.

É certo que, praticando apenas alguns minutinhos por dia, você se tornará um expert nesta incomum ferramenta de contato. Mas apenas alguns minutinhos, ok? Se exagerar na dose, você deixará de ser subversivo para se tornar novamente submissivo, fechado em si mesmo. Portanto, levante logo, vá ao mundo e compartilhe a sua autenticidade. Lembre-se: estamos vivendo na era das conexões. E na era das conexões o mundo precisa de relações de qualidade. Basta apenas lembrar que isso começa na relação consigo mesmo.


3 comentários:

  1. Divertido, interativo e reflexivo.
    Gostei desta forma de enxergar a era digital e da aposta no pessoal.

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  2. uwMuito bom o texto!!!
    E esse "vício" em estar conectado com o mundo está ficando cada vez mais perceptivel e incontrolável. Hoje com os i-phone's e cia, mesmo fora de casa, numa reunião com amigos, ou até numa viagem as pessoas se conectam pelo seu celular, não conseguem nem descansar sem ter a certeza que "não deixaram de dar atenção para alguém importante".

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  3. Excelente texto! mallet sempre muito preciso em suas colocações. A sintonia do mundo web e o Yôga é muito bem interligado pelo Mallet

    Parabéns

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