Este blog foi montado com o intuito de retratar experiências de professores de SwáSthya Yôga que dedicam suas vidas a praticar, ensinar e difundir esta fantástica filosofia de vida.



sábado, 21 de junho de 2008

CONHECI DeROSE



Há onze anos, numa manhã de Outono, como era habitual, fui praticar Yôga com Edgardo Caramella. Quando cheguei à

escola, situada no bairro portenho do Abasto, o meu professor

tinha uma notícia inesperada: nesse dia DeRose viria visitar-nos.

Agora? Não, à noite. Faltavam, exactamente, doze horas. Para

mim, foi uma surpresa e creio que para Edgardo também, uma

vez que nos estava a avisar em cima da hora. Ele disse-nos que

se iria concentrar para preparar uma refeição e outras coisas para

recebê-lo, e propôs-me - porque não - aproveitar o dia para criar,

treinar e apresentar uma coreografia para o nosso convidado.

Dado que eu nunca tinha apresentado (nem criado, nem

treinado) uma coreografia de SwáSthya Yôga, até aquele

momento, a proposta era, então, um grande desafio. Por sorte,

um aluno mais antigo – na realidade um instrutor acabado de se

formar – chegou, mais ou menos, naquele momento da conversa

e propôs-se a ajudar-me. Aceitei a ajuda. Luciano e eu corremos

para a sala de prática, desarrumámos a coleção de CDs do

Edgardo, para podermos ver todas as capas e começar a procurar

uma música adequada para a minha primeira coreografia. Não

sei quanto tempo demorámos, mas ainda era de manhã quando

encontrámos uma música de percursão que ambos conhecíamos

de algum filme daquela época. O primeiro passo estava dado.

Durante a tarde, fui reunindo ásanas (técnicas corporais do Yôga

Antigo) para os combinar, de acordo com as minhas

possibilidades criativas. As coreografias, normalmente, também

levam mudrás (gestos feitos com as mãos), mas se eu não me

engano, não coloquei nenhum, uma vez que ainda não estava

familiarizada com essa técnica. Foi uma coreografia muito

simples e não sei dizer, hoje em dia, se ficou bonita ou não. Em

pouco tempo esqueci-a e acho que, naquela noite, ninguém a

filmou… mas nesse dia treinei-a tanto quanto o tempo e a

perseverança o permitiram e foi o suficiente para impregná-la

nas minhas células. De vez em quando, Edgardo abria a porta da

sala e observava como estava a decorrer. Depois, ia-se embora,

sem dizer muito… e eu perguntava-me o que estaria ele a

pensar.

Ao entardecer, alguns pensamentos começaram a surgir-me

quando tinha a coreografia razoavelmente pronta. Alguém que

para o meu professor era muito importante estava a chegar.

Alguém de quem eu não sabia muito, apesar de há alguns meses

a esta parte, ter vindo a escutar o Edgardo, a mencioná-lo

diariamente. Sem dar por isso, tinha vivido um dia de pújá

(retribuição de energia). Tinha passado as últimas doze horas a

preparar uma oferta para o Mestre, algo feito com a minha

matéria e com a minha energia. Em cada movimento do meu

corpo existia a firme intenção de o conhecer.

Não me lembro como decorreu o momento em que DeRose

chegou à nossa escola. Também não me lembro se aconteceu

mais alguma coisa antes das coreografias, uma vez que estava

muito concentrada no que tinha a fazer. Lembro-me do DeRose,

somente a partir do momento em que iniciei a minha

apresentação. O seu olhar intenso chamou-me a atenção, desde

que realizei o primeiro ásana da sequência, mostrando-me, de

forma clara e física, o início de uma relação humana diferente.

Após a minha apresentação, Laurita Ferro – nessa época, aluna

mais antiga, actualmente directora da Companhia SwáSthya de

Artes Cénicas– realizou a sua própria apresentação (muito mais

ensaiada e trabalhada que a minha coreografia de um dia). O

que aconteceu depois é o que eu mais recordo. Talvez, para

mim, tenha sido o momento mais importante desse dia. Quando

ambas as coreografias terminaram, DeRose dirigiu-se até

Edgardo e agradeceu-lhe, com um abraço que durou minutos.

Em seguida, veio até onde eu e a Laurita estávamos e ofereceunos,

a cada uma, uma medalha de bronze, com o símbolo do

ÔM.

Aquele momento ensinou-me o funcionamento natural da

hierarquia e a importância da atitude do discípulo para com o

Mestre, e vice-versa.

O olhar do DeRose ficou gravado na minha memória, como uma

medalha. E a medalha que me ofereceu, permaneceu no meu

pescoço, durante vários anos. Até que uma onda, numa tarde de

verão, na ilha brasileira de Florianópolis, a levou… mas isso

solucionou-se com uma medalha nova.

O olhar do DeRose, desde aquele encontro em Buenos Aires,

continua imutável em mim, sem ondas nem tormentas que

possam levá-lo.



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