Este blog foi montado com o intuito de retratar experiências de professores de SwáSthya Yôga que dedicam suas vidas a praticar, ensinar e difundir esta fantástica filosofia de vida.



quarta-feira, 4 de junho de 2008

Um caminho, uma verdade, uma vida



Quantos caminhos existem? Para retornar ao lar, para chegar ao tão desejado destino ou para atravessar um território desfavorável parece-me que existem tantas opções possíveis quanto quisermos imaginar. Uma variedade indescritível de possibilidades para escolher e tudo que se precisa fazer é começar a dar passos. Mas mesmo que admitamos todas as possibilidades, se cada caminho é constituído de cada passo dado, a cada passo afunilamos nossa escolha. A cada passo, descartamos alguns caminhos e restringimos nossa opção para um grupo cada vez mais seleto de rumos. Caminhamos e, ao fazê-lo, reforçamos nossa escolha. Consolidamos nossa linha.

Quantos caminhos, então, podemos percorrer ao mesmo tempo? Mesmo que sejam bem parecidos para o observador ou para o que teoriza, este que tem a paupérrima experiência de simplesmente olhar de fora sem nunca trilhar nenhum deles, cada caminho é único, e isto bem sabe aquele que se aventura a caminhar. Por vezes, porém, aquele que resolve seguir um caminho faz pouco caso das peculiaridades do que escolheu e tentam seguir diferentes trilhas. Surgem, então, os conhecidos discursos, dizendo que "se todos levam ao mesmo destino, é certo que podemos trilhar por hora um caminho, por hora outro", servindo de nascente para outro discurso, que me parece muito mais ruinoso: "Se cada caminho é único, haveria coisa mais plena que trilhar todos eles?". Se você já conseguiu chegar a algum lugar seguindo dois caminhos ao mesmo tempo, ficarei eternamente grato se parar agora sua leitura e deixar um comentário com seu e-mail, pois preciso conhecer você!

Há quem goste de caminhar através de mistérios, segredos e coisas que ficam indecifráveis eternamente. Há quem goste de caminhar sentindo cansaço, dor, tristeza e tudo aquilo que qualquer animal dito irracional evita. Ostentamos nosso título de sapiens e por esse hábito de pensar demais, faz sentido desejarmos que exista sempre alguém para mastigar o alimento por nós. Alguém para entregar-nos o mistério como a verdade absoluta e. Por pensar demais, acabamos por desejar reprimir tudo aquilo que flui naturalmente em nós, desde nossa sensorialidade até a fuga das situações aversivas para buscar o que é agradável. Bem, pelo menos é isso que você pode observar em toda a riqueza do nosso cotidiano.

Não há, certamente, caminho certo ou errado. Há um caminho que é exatamente o que você sempre pensou, mesmo que não tenha conseguido organizar tudo nem encontrar outras pessoas que pensassem assim como você. Pela identificação, e não pela doutrinação, todos nós podemos descobrir o caminho que sempre foi o nosso, porém não tínhamos consciência. Uma vez lembrado (ou desesquecido) qual o caminho, resta caminhar.

Por muito tempo procurei. Começava diversos caminhos e, aos primeiros passos de cada um, percebia discrepâncias com a minha forma de existir. Não era aquilo que caía como uma luva, mas fui juntando fragmentos de cada início de caminho, pois acreditava que era desta forma que montaria o meu próprio mapa. Com o tempo meu mapa se montou e percebi que cada início juntava-se a outro início até que consegui um círculo, e realmente nada fazia além de andar em círculos sem chegar a lugar algum. Tentei, sem sucesso, montá-los em outra ordem, pois "não é possível que eu tenha desperdiçado meu tempo. Tamanha facilidade em achar pontos em comum entre tudo só pode ser um sinal positivo".

Muitas vezes tive dúvidas, mas acreditava que daquela vez podia ter encontrado o caminho certo. Em cada uma delas fortaleci a opinião de que se não há uma certeza absoluta e imediata de que é, é um sinal... pode ter certeza que não é. Depois de discordar de poucos detalhes em muitos lugares diferentes, hoje já "desesqueci" o meu caminho e trilho-o com disciplina e lealdade. Olhando para trás e relembrando quando comecei, fica muito claro que tomei a decisão correta.

Tão raros quanto afortunados são os que conseguem, após se decidirem, dedicar-se com seriedade por tempo suficiente para chegar ao seu destino. Parece difícil conter nossa criança interior dentro desta enorme loja de doces, cada qual com sua receita particular, ingredientes diferenciados e sabor único. Talvez seja por isso que vemos tantas pessoas sem disposição, passando mal cotidianamente: as crianças comeram doces demais e misturaram todos. Sim, porque a disciplina não se refere somente a seguir somente o seu caminho escolhido, mas a segui-lo com parcimônia, atentando para equilibrar a sua segurança com a evolução da sua caminhada.

Em última análise, somos nós que escolhemos o caminho, não o contrário. Somos nós que escolhemos um educador, não o contrário. Somos nós que damos este passo inicial, mas não raro somos também nós que reclamamos e consideramos injusta cada conseqüência de nossos passos. Nem sempre é fácil reconhecer que somos nós que, na maioria do tempo, decidimos o que nos acontecerá no futuro. Mais raro ainda é alegrar-se sinceramente por isto.

Escolha com sobriedade o seu caminho, a sua verdade e a sua vida... pois não podemos ter, simultaneamente, dois de cada.


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