Este blog foi montado com o intuito de retratar experiências de professores de SwáSthya Yôga que dedicam suas vidas a praticar, ensinar e difundir esta fantástica filosofia de vida.



domingo, 30 de novembro de 2008

O Tempo Não Pára



Pare tudo por alguns instantes e seja apenas um observador.

Você já parou para pensar em quantas coisas estão acontecendo neste exato momento em que você lê estas palavras?

Seu sangue continua correndo em suas veias. Seu sistema nervoso é constantemente solicitado para a devida interpretação da leitura. Os carros passam na rua. O Planeta Terra continua girando. O universo continua seu processo de expansão! Enfim, o tempo continua correndo.

Mas e se fosse possível parar tudo. Parar o tempo. Conquistar a imobilidade completa. Uma vastidão silenciosa e quieta, estática, total e infinita. Será possível.

O tempo nada mais é do que uma impressão de uma parte. Precisamos do tempo para podermos passar por muitas experiências que nos conduzem para a evolução. Como não podemos entender o todo de uma só vez, com certeza por diversas limitações, ai está o tempo, para que se possa assimilar uma coisa de cada vez. Em vez de engolir uma pílula grande demais, partimo-la em várias menores facilmente assimiláveis.

Mas e se fosse possível expandir a consciência a tal ponto de poder entender o todo de forma instantânea? Bom, ao chegar neste estado de consciência, que na filosofia prática do Yôga recebe o nome de samádhi, o tempo para, “não passa”. A noção do tempo é distorcida conforme o grau de consciência que se atinge. Em estados de consciência expandidos temos a impressão de uma longa passagem de tempo que se dá em alguns instantes. Como se fosse percebida a passagem de horas, mas que na realidade objetiva duraram apenas um instante, talvez nem mesmo um segundo.


Claus Haas


sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Agradecimento aos pais




Texto lido durante a cerimônia de formatura de instrutores de SwáSthya Yôga do dia 21 de novembro de 2008.
Queridos pais,
Imagino que, quando nós, seus filhos, chegamos ao mundo, suas vidas mudaram completamente.
Para encarar essa mudança, tornando-se pai, tornando-se mãe, foi preciso uma certa mistura de talentos. Alguns desses talentos já estavam em seu repertório antes mesmo de nascermos.
Certamente, uma dose de insensatez estava entre eles. E, claro, coragem.
Outros, sempre estiveram em potencial dentro de vocês, mas - em sua plenitude - só vieram depois: como um amor gigantesco - do qual ninguém se sabe capaz até que o sinta.
Ser pai, ser mãe é um constante desenvolvimento de potenciais conhecidos e desconhecidos: leitor de termômetro, trocador de fraldas, engenheiro aéreo de pipas, inventor de cafunés, torcedor de time dente-de-leite, maquiador de festa junina e muitos outros, todos eles fundamentais.
E tudo na prática: é como ser o atirador de facas no primeiro dia de emprego. As coisas vão sendo aprendidas enquanto a roda gira e nada pode dar errado, ainda que, eventualmente, dê.
Não falarei sobre perda da liberdade, pois poucas coisas celebram mais essa palavra misteriosa e tantas vezes mal comercializada, que a escolha consciente de abrir mão de um pedaço dela em nome de um filho.
Saber abrir mão, aliás, está entre os talentos a serem desenvolvidos pelos pais. Tão difícil em épocas quando tantos punhos se fecham. Mas pais são pais em qualquer época.
Abre-se mão, um dia, até mesmo do destino do filho que, em algum momento, decide tomar sua própria vida pelas rédeas. Para que ele possa transformar, assim, essa outra palavra misteriosa, destino, em algo menos nebuloso.
Dificilmente algum de vocês pôde imaginar que, um dia, teriam filhos com essa formação, a de instrutor de Yôga. Talvez um imaginasse um médico. Outro, um arquiteto. Outro, ainda, um advogado.
Mas tenho certeza de que, qualquer uma dessas projeções - e quanto de si mesmos os pais projetam nos filhos -, qualquer uma dessas projeções incluía acima de tudo uma filha, um filho realizado financeira e profissionalmente, íntegro, ético e feliz.
E, diante disso, só posso concluir que vocês, em verdade, não queriam médicos, arquitetos ou advogados: queriam que o fruto de seu amor se tornasse um homem, uma mulher livre.
Peço que olhem atentamente para os rostos que ora estão aqui, à frente. É isso o que vocês, pais, vêem: rostos de homens e mulheres que optaram pelo caminho da liberdade. Homens e mulheres livres.
Um caminho que só pôde ser trilhado a partir dos passos iniciais ensinados por vocês. Esses passos jamais deixarão de fazer parte desse caminho, desejado por muitos, mas abraçado apenas por aqueles com as doses de coragem e amor necessárias. E de insensatez, se assim podemos chamar a sensatez de uma minoria que decidiu se tornar diferente da maioria.
Para muitas profissões, criou-se a figura do caçador de cabeças. Um homem que escolhe os profissionais mais indicados para trabalhar em certos postos importantes nas empresas. Dizemos, entre nós, no entanto, que o ensino do Yôga caça corações. Corações não vão para onde alguém aponta, mas para onde sempre quiseram estar: é a diferença entre ser escolhido e escolher. Entre cortar cabeças ou acolher corações.
Os primeiros passos que vocês, pais, nos ensinaram ajudaram a trazer nossos corações até aqui. A este momento. Queiram ou não são cúmplices das mudanças que, agora, celebramos e que o Yôga e a profissão de instrutor de Yôga produziram e continuarão a produzir positivamente em nossas vidas.
Gostaria que vocês soubessem que estamos imensamente gratos.
Obrigado.

Alessandro Martins e Julia Rodrigues


quinta-feira, 27 de novembro de 2008

La tolerancia como estilo de vida



Foto: flickr, subida originalmente por azil jamil


Si bien la tolerancia forma parte del discurso políticamente correcto que se escucha con frecuencia, en realidad se la practica poco. Quizás porque es más fácil predicarla, que llevarla a la práctica. Por alguna razón, los seres humanos tenemos algo así como un “defecto de fábrica” que nos lleva a creer que nuestra experiencia es trascendental y única en su importancia, aun para otras personas. En realidad, esa trascendencia sólo vale para nosotros mismos.

La tolerancia requiere conciencia, respeto y aceptación. Ser capaces de entender que el mundo es igual de válido mirado con otros ojos, desde otro punto de vista. Demanda un aprendizaje: el de reconocer que las diferencias enriquecen.

Y aquí es donde el Yôga Antiguo puede hacer un valioso aporte, porque su objetivo es ampliar la conciencia. Ya desde los inicios, el conocimiento obtenido por el yôgin sobre sí mismo se expande al mundo a su alrededor, haciendo realidad tangible la intención de aprender del otro y de su vivencia.

A causa de la práctica, el sádhaka (practicante) comprende su conexión con el universo y con el resto de la humanidad y aplica lo aprendido incrementando su comprensión de las diferentes costumbres, usos y maneras de las personas. En síntesis, percibir la realidad en un sentido amplio nos induce a sentir una conexión profunda con los que nos rodean, incorporando el ejercicio de la tolerancia a la vida cotidiana.

Vale la pena hacer una aclaración: es una confusión bastante común que se malinterprete a la persona pacífica tomándola por pasiva, y también se suele entender mal al tolerante, considerándolo permisivo. Ser tolerante no implica dejar de defender aquello en lo que creemos ni permitir que nos agredan sin reaccionar.

Entre los valores del movimiento cultural formulado por el Yôga Antiguo, reconocer las diferencias y aprender de ellas es vital. Relacionarnos con respeto es un entrenamiento diario. Para un practicante de SwáSthya Yôga, la lealtad a sus ideales es tan importante como la tolerancia y el cariño hacia los demás.

Para finalizar, lo invito a tomarse unos instantes para analizar cuál es su propio nivel de comprensión, empatía y tolerancia hacia quienes lo rodean (especialmente hacia los que están más próximos). Mejorar en ese aspecto puede ser sólo cuestión de proponérselo.


Natalia Sanmartín Gil


quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Quem é o Mestre



Texto lido durante a cerimônia de formatura de instrutores de SwáSthya Yôga do dia 21 de novembro de 2008.  

O mestre é o cara que encontrou, no escuro, um caminho.

Mestre também é aquele que, ao chegar onde quer que o caminho leve, dissipa essa escuridão.

Se você vê uma luz no fim do túnel, é esse cara. Segurando uma lanterna. Lá na frente.

Não é ele que deve vir a você, mas você a ele. A ele, que já fez o caminho.

Ainda assim, se você insistir em olhar para as paredes do túnel, para o labirinto de escuridão, seja com medo - que paralisa - seja com a intenção de se envolver por elas, as trevas, o mestre continuará a chamar. Lá de longe.

Ele não pode puxá-lo, não pode laçá-lo, não pode prendê-lo. Como um mestre poderia ensinar a liberdade com tais recursos? Que tipo de aprendizado é aprendizado sem ser libertador e sem conter a liberdade em seus métodos?

O mestre não pode vender certezas. Pode tão somente, com a mão em concha, ofertar uma possibilidade. A primeira coisa que ele ensina, com isso, é a liberdade de aceitar ou não essa possibilidade. E o aluno, ainda que não a aceite, já terá aprendido algo. A liberdade de aceitar ou não.

O mestre pode apenas lançar mão do mesmo encanto que o encantou e que o fez chegar onde está. Não mais. O aluno escolhe o mestre. Não o contrário.

A dádiva de educar, assim, pode ser acompanhada da frustração de não ser ouvido. O mestre aprende a superar essa dor. Pois, às vezes, se está muito longe: o verdadeiro educador é vanguarda, ainda que ensine a sabedoria de um passado remoto.

O educador está sempre no front: seu conhecimento é como a mochila de um guerreiro, o equipamento de um soldado. E poucos gostariam de se oferecer às pedras da ignorância na linha de frente, como ele faz todos os dias.

Então, o verdadeiro mestre - não importa de que área do conhecimento - faz seu chamado. Alguns o ouvirão. Outros não. Certas sementes não germinam em alguns solos e, para cada solo, mesmo os pedregosos, há uma semente apropriada.

Alguns conseguirão ir aonde o mestre chegou. Poucos, muitos, não importa. Sentados em torno da fogueira, todos juntos, olharão para o caminho que trilharam. Verão que o mestre mostrou a vereda, mas cada um teve de deixar suas próprias pegadas nela.

E então é a vez de alguns desses alunos irem além. A hora de uma verdade que alguns - mais emotivos - acharão melancólica: os mestres também são necessários porque nós humanos somos finitos, não temos como perpetuar sozinhos, na linha do tempo, um conhecimento. Nossos prazos são muito limitados. A arte é grande, a vida pequena: projetamos nas gerações seguintes, os novos caminhos a serem trilhados e legamos, também a elas, a sabedoria que deve ser preservada intacta como um diamante.

É nesse momento que o mestre irá lhe passar às mãos o lume com que, durante tanto tempo, iluminou o túnel que você percorreu. E você entenderá, então, que, antes dele, um outro mestre fez esse mesmo gesto. E, antes desse, outro. E antes, ainda, outro. Até onde alcança a limitada compreensão humana acerca do passado.

E, finalmente, o mestre lhe apontará para onde acredita ser o caminho que faria. E, novamente, com a liberdade que você aprendeu desde o início desta jornada, você fará uma nova escolha.

E, sem medo, dará um novo passo. A jornada do conhecimento deve continuar.


Alessandro Martins



terça-feira, 25 de novembro de 2008

Vamos meditar um pouco?





Ultimamente somos bombardeados, dos primeiros instantes do dia até os minutos antes de adormecer, com centenas de milhares de estímulos diferentes. Há quem diga que em um jornal diário encontram-se mais informações do que uma pessoa assimilava durante toda a vida há algumas décadas.


Este excesso de informação gera uma intensa dispersão mental. A todo momento, nossa mente deriva para alguma novidade. Isto promove, inegavelmente, stress. A tal ponto que dezenas de patologias sejam associadas a ele e a falta de se “desligar” um pouco. Não um desligar no sentido de dormir ou apagar. Mas se desligar deste turbilhão de estímulos variados. Se abstrair de todas estas dispersões.


Se damos atenção para tudo o que vem de fora, para todos estímulos externos, nos esquecemos do que realmente somos. Deixamos de nos perceber a nós mesmos para se observar com a ótica e o julgamento daqueles que nos observam. A conseqüência disto é a perda da auto-estima e todos efeitos que advém desta perda, chegando até o ponto de se transformar em uma depressão.


Para combater isto há milhares de pessoas que utilizam técnicas de meditação. Na verdade, intuição linear é a melhor definição para esta técnica. Meditar, como técnica, significa parar de pensar. É a parada das ondas mentais, ou instabilidades mentais. E quando param, há vazão para o aflorar de um estado de consciência mais sutil e mais amplo, a intuição linear, a meditação.


No estado de consciência da meditação o conhecimento flui de dentro para fora. E não o contrário, como estamos acostumados. Um conhecimento puro, que não necessita de análises ou confirmações, já que não resulta de algo prévio. Não é a toa que altos executivos utilizam estas técnicas para definir o rumo de suas empresas. Por que procurar fora o que já está guardado dentro? Basta olhar, basta observar.


Enfim, para que a meditação flua mais facilmente, ter um corpo forte, saudável e resistente faz grande diferença. Sem isso, usar a técnica da meditação seria como fortalecer a musculatura de um braço e abandonar o restante do corpo. Através das técnicas do Yôga Antigo, este fortalecimento é facilmente conquistado. Inclusive, os oito feixes de técnicas que fazem parte de sua prática ortodoxa se encerram justamente coroados pela meditação!




Claus Haas
www.claushaas.blogspot.com


quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Mentalizar para evolucionar



La mentalización es un recurso que todos tenemos para construir nuestro futuro.
Ilustración: Lisa Wong


Toda acción humana comienza como una idea. A veces, esa idea es consciente. Otras, simplemente nos encontramos realizando algo, sin haber detectado el pensamiento previo que disparó ese mecanismo.

La propuesta del Yôga Antiguo es expandir la conciencia hasta alcanzar un estado denominado samádhi. Ya desde las primeras prácticas podemos sentir que estamos haciendo consciente lo inconsciente.

Se empieza de a poco, con lo más obvio, que es nuestro cuerpo físico. Prestando más atención a la respiración aprendemos a moderar sus ritmos. Luego descubrimos empíricamente que la frecuencia cardíaca está directamente relacionada con el ritmo de la respiración. Percibimos grupos musculares que no habíamos sentido antes, y de la mano de esas percepciones desarrollamos fuerza, flexibilidad, constancia y disciplina entre otras cualidades, que exceden largamente el plano corporal.

Practicando cotidianamente durante algún tiempo, el yôgin (pronúnciese “ioguin”, palabra que designa al practicante de Yôga) empieza a estar mucho más atento a sus pensamientos y al momento en el que sus acciones se delinean en el plano mental. Comprende también que, para que el pensamiento no sea ilusión, es preciso pasar a la acción.

Al concientizar este mecanismo, se devela una posibilidad que se expande en otras, infinitas: si creamos con nuestros pensamientos aquello que queremos conseguir, estamos marcando un surco, trazando un camino que después recorreremos con acciones en el plano concreto de la realidad, que van a aproximarnos a nuestro objetivo.

Pero… ¿cómo se mentaliza algo?

Es muy simple: pensando en ello concretamente. Mentalizar es la acción de generar imágenes mentales. Pueden ser imágenes visuales, pero hay personas que usan también otros sentidos (olfato, tacto, oído). La imaginación es, en cierto sentido, una forma de mentalización.

Para entrenar esta habilidad, que forma parte del patrimonio del ser humano como especie, aquí le propongo un sencillo ejercicio.

La técnica

Siéntese cómodamente en un lugar tranquilo, procurando no ser interrumpido durante algunos minutos (con cinco minutos por día es suficiente). Ubique la espalda bien erguida pero sin tensión, cruce las piernas, cierre los ojos y respire en forma nasal, lenta y profunda, encontrando su propio ritmo, fácil de mantener.

Elija una meta personal para mentalizar. Puede ser en cualquier ámbito o aspecto de su vida: profesión, familia, relaciones, realización personal, un deporte, la forma de su cuerpo o cualquier otra cosa.

Comience a generar una imagen que represente el momento en el cual obtiene ese objetivo. Busque tornar esa imagen bien nítida, como si hiciera foco con una cámara de filmación. Véala como una película. Siéntase protagonista de este futuro posible, visualizándose en el centro de la escena, alcanzando su meta. Mantenga la imagen por algunos minutos y luego ciérrela.

Permanezca un momento más con los ojos cerrados, buscando aquietar sus pensamientos para descansar el plano mental de la intensa actividad que mantuvo. Luego, abra los ojos, cerrando la técnica y predisponiéndose a pasar a la acción. Tenga en cuenta que todo practicante de Yôga es un hacedor, un constructor de realidades, un entusiasta que genera acciones que le permitan aportar para construir un mundo mejor.

Sea constante, dedicando cinco minutos a la mentalización cada día, sin cambiar de objetivo hasta verlo realizado. Los resultados serán asombrosos.


Natalia Sanmartín Gil
http://www.uni-yoga.com.ar/
http://www.yogabuenosaires.com/


terça-feira, 11 de novembro de 2008

A Era da Velocidade



O esquecimento, filho do descaso, é um atalho para a 
ineficiência, mãe da incompetência.

Há quatro anos, fui convidado a ministrar aulas de Yôga ao staff de uma grande companhia aérea norte-americana em SP, e como bônus, recebi uma passagem à Nova York. Já dentro do avião, percebi que alguns yuppies olhavam para o relógio a todo instante e resmungavam que estávamos tardando a chegar (como se eles não soubessem a duração de uma viagem daquelas).

Ao chegar à Big Apple pela oitava vez em minha vida, pude constatar uma grande mudança em relação a minha primeira estadia lá há alguns anos: a velocidade. A cidade, agora, mais do que nunca, cultuava a velocidade de tudo e todos. Da informação, da população, das máquinas, etc..As pessoas se alimentam, acordam, trabalham, dormem, falam e fazem amor com pressa.   

Pude também denotar que a nova resposta para a tradicional pergunta: “Como vai, tudo bem?”, tornou-se internacional. Lá também o interlocutor escuta quase sempre: na correria! Por alguns dias, refleti sobre isso. Tudo ficou ainda mais elucidativo, quando liguei para minha escola de Yôga em SP e perguntei como estavam as coisas. Adivinhe qual foi a resposta!

No entanto, isso não é exclusividade de N. York. O mundo tornou-se veloz, globalizado, principalmente o mundo dos negócios de alimentos e os nossos mundos também. Porém, você já parou pra pensar até que ponto isso é benéfico para você? Invocando a dualidade que nos permeia, temos vantagens e desvantagens.

Creio que seja óbvia a importância da velocidade nos dias de hoje, principalmente nas vidas em grandes metrópoles. Mas, mais óbvio ainda, são os prejuízos advindos do ritmo alucinado perpetrado pelas sociedades de uma forma geral. Não estou fazendo apologia à lentidão e sim a conscientização dos atos e a natureza do seu próprio tempo.

Sou diretor de uma Unidade da Universidade de Yôga em São Paulo e tenho percebido com freqüência que a suposta busca pela velocidade tem atrapalhado a perfeição na execução das tarefas por parte dos meus instrutores. Por exemplo, tento fazê-los entender que é de extrema relevância reler aquilo que escrevem, pois além de nos impor disciplina e controlar a ansiedade é sinal de respeito e educação com o leitor. Mas, devido a correria, trocam a qualidade do trabalho por uma maior quantidade de tarefas executadas em menos tempo. Só que nem sempre estas tarefas saem com o primor da perfeição, que é, como diria Michael Jordan, o que diferencia os homens das crianças. Neste caso, os conscientes e os condicionados.

Quando digo a alguém que estou com pressa e esta pessoa tem a possibilidade de me acompanhar no desenrolar dos fatos; ela costuma indagar após alguns minutos: “Escuta, você não estava com pressa?”. Este tipo de questionamento acontece porque tento fazer com que a pressa não faça comigo o que faz com a maioria das pessoas, ou seja, negligenciar os detalhes de uma tarefa. O segredo é fazer sem pressa, aquilo que você tem pressa de concluir. Como o Yôga me ensinou: deixar-se absorver pelo momento presente, sem indolência ou desespero. Assim, ameniza-se os erros e o poderoso stress advindo desta correria desenfreada, que velozmente mina a saúde, produtividade, criatividade e prejudica a relação inter-pessoal em qualquer que seja o grupo de pessoas. No fim das contas, todos pagam o preço por aquilo que criamos.      

Um erro comum dos palestrantes é a pressa em se expressar. Querer falar primeiro e mais do que os outros.  A paciência é a virtude do sábio, portanto ouçamos primeiro para falarmos depois.

Com a velocidade de uma bola de neve, vamos espalhando este condicionamento para todas as áreas de nossas vidas. Até quando vamos ao médico, queremos que ele seja veloz em nos diagnosticar e curar. Após cinco minutos de conversa, lançamos a indefectível pergunta: “Então, doutor, o que tenho?” E ficamos irritados com a falta de uma resposta rápida. Nos irritamos com o trânsito lento (minha antiga professora de Inglês desistiu de dirigir em SP, porque outros motoristas não respeitavam quem não estivesse com pressa), com restaurantes que não trazem o prato com a rapidez de um fast-food (um bom treinamento para a diminuição deste sintoma é fazer um tour pelos restaurantes de Havana).

Um claro sintoma que nem todos estão satisfeitos com isso é a nova ordem que está se estabelecendo de mansinho. O movimento Slow-Food na Europa em contraposição ao Fast-Food que os Estados Unidos alastraram pelo mundo; o retorno do ancestral sexo tântrico que ensina a não ter pressa em qualquer interpretação que esta palavra possa ter. 

Faça um esforço titânico para que a partir de hoje suas refeições durem o tempo que for preciso.
Selecione bem o que navega em seu prato. Mastigue lentamente e sem pressa (se estiver com pressa, deixe para comer depois), saboreie o alimento, sinta as diferentes texturas do que está sendo ensalivado, olhe para o que está ingerindo, veja suas cores. Você não vive para comer; come (bem e consciente) para viver.  

Quantas vezes você acha que perdeu uma oportunidade por falta de percepção devido ao “excesso de velocidade”? É como se estivéssemos dentro de um veloz automóvel, tão preocupados em olhar pra frente que deixamos de perceber que acabou de passar por nós um atalho.

Os gregos representavam a oportunidade através da alegoria de uma mulher com a parte de trás da cabeça raspada. Significava que se você a deixou passar, não adiantará tentar segurá-la pelos cabelos. Foi-se! As oportunidades que você deixa passar não serão esquecidas no tempo e no espaço, alguém as aproveitará em seu lugar! Portanto, amenize a pisada no acelerador e olhe para os lados para que a graça do trajeto seja tão grande quanto o alcance de seu destino.   

Reflitamos sobre aquela velha e boa expressão: “A pressa é inimiga da perfeição”, pois ela parece ter sido criada por alguém que pressentia que chegaríamos a esta época.

Na verdade, sinto que corremos de nós mesmos, porque se pararmos, perceberemos quem realmente somos, pra onde estamos indo e o que estamos fazendo. Fugimos disto com a mesma velocidade com que nos enganamos! 

Agora, vá para o começo deste artigo e releia-o, pois é muito provável que o tenha lido com pressa, e devido a ela, deixamos passar, muitas vezes, o essencial, o que não está explícito e sim encerrado nas entrelinhas.

 
Fábio Euksuzian


terça-feira, 4 de novembro de 2008

Axioma número um



 Foto: Martín Coltzau
 
Numa tarde, DeRose convidou um grupo de intrutores estrangeiros, que estavam de passagem pela cidade de São Paulo, para comer na sua casa. Naquele ano, DeRose ainda morava num pequeno apartamento, próximo da Sede Central da Universidade de Yôga. Eram instrutores de várias nacionalidades e, entre eles, estava eu. Fomos à sua casa e ofereci-me para ajudá-lo na cozinha. Fiquei responsável por lavar e cortar os brócolis. Lavei-os, cuidadosamente, e quando já estava quase a cortá-los, DeRose, com um tom sério, advertiu-me: Vais cortar tudo junto? Separa as flores e corta apenas os talos. As flores não se devem comer, porque são indigestas. Fiquei um pouco confusa perante a nova informacão. Depois veio a vergonha repentina por ter demonstrado tamanha ingnorância culinária, perante o meu Mestre. Comecei a justificar-me, balbuciando desculpas do estilo que eu já tinha aprendido assim, que na Argentina todos comem bróculos inteiros e blá blá blá. DeRose escutava-me atentamente, permanecendo em silêncio e permitindo que eu continuasse a procurar palavras para me justificar. Não demorou muito a começar a rir sem parar, enquanto exclamava: Axioma número um: não acredites!


Anahí Flores