Este blog foi montado com o intuito de retratar experiências de professores de SwáSthya Yôga que dedicam suas vidas a praticar, ensinar e difundir esta fantástica filosofia de vida.



sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

O nascimento de Ganêsha





Conta a lenda que após Shiva e Parvatí se casarem, mudaram-se para viver em isolamento em meio as cavernas do Monte Kailash. Como já era de costume, Shiva, freqüentemente, sentia a necessidade de ficar sozinho e por isso, “perdia-se” por longos espaços de tempo nas gélidas florestas dos Himalayas; com isso, Parvatí, sentia-se cada vez mais abandonada.

Certo dia, a deusa banhava-se no lago Manasarovar, próximo do local onde residia. Tudo estava como de costume, quando em um ato de extrema vontade, ela começa a esfregar sua própria pele com pasta de sândalo (conhecida por seus efeitos afrodisíacos); de repente, do meio daquela poeira toda, brota um garoto que é logo batizado por ela de Vinayaka (aquele que é dito artificial). Identificaram-se em primeira instância, voltaram juntos à gruta e pararam em frente à caverna. Parvatí lhe disse: você é fruto de minhas entranhas, está aqui pra me fazer companhia e proteger, portanto, pegue este clava, fique guardando a entrada e não deixe ninguém perturbar minha meditação. Algumas primaveras depois, Vinayaka avista um vulto se aproximar; era o próprio Shiva que retornava de seu retiro. Ao tentar passar por Vinayaka, é barrado pelo garoto. Shiva o questiona se ele sabe com quem está falando e, não obtendo nenhuma resposta do filho de Parvatí, Shiva, estupefato e irritado, conclama seu exército, os ganas, para auxiliá-lo a retirarem o moleque atrevido dali. Inicia-se uma pequena batalha. Shiva assiste incrédulo seu exército ser derrotado por um só garoto e, em um momento de descuido de Vinayaka, Shiva o degola com um golpe de seu tridente. Neste momento, Parvatí, desconcentrada com toda aquela barulheira, saiu da gruta para checar o que estava acontecendo. Ao aproximar-se, avista seu filho caído ao chão, decapitado, enquanto Shiva limpava o sangue dos dentes de seu tridente. “O que fez com meu filho, o que fez com meu filho?”, bradava desesperadamente Parvatí. Shiva, ao perceber a gravidade da situação, ordenou que sua trupe trouxesse a cabeça do primeiro animal que encontrassem na floresta. Por obra do acaso, naquele exato instante passava por perto, um elefante, cuja cabeça foi eleita para ser a nova de Vinayaka, fazendo-o recobrar a vida. Shiva então, o rebatiza com um novo nome: Ganêsha (gana exército, isha, senhor), o senhor dos ganas.

Há um outro começo para este purana: As amigas de Parvatí reclamavam a ela que a trupe de Shiva só obedecia fielmente a ele e que precisavam de alguém do lado delas. Parvatí, para não entrar em conflito, não lhes dava ouvidos, até que certa vez Shiva adentrou com Nandi, sua fiel montaria, os aposentos de Parvatí, enquanto esta se banhava. Totalmente constrangida, decidiu criar um guardião...

O momento da batalha também difere entre uma versão e outra. Percebendo que estava difícil para o garoto, as companheiras de Parvatí, enviaram duas deusas para protegê-lo. Uma delas possuía uma boca enorme na qual engolia tudo o que era lançado sobre o rapaz, enquanto a outra lançava de volta os projéteis. Desta vez o menino recebe o nome de Vighnêshvara, o senhor dos obstáculos.   

Elucidação: dentro da cosmogonia Tântrica, a dualidade primordial da Criação é formada por Shiva e Shaktí, principio imutável, amórfico, imortal e matéria cinestésica, criativa, simbolizada pela própria natureza, respectivamente. Neste mito, a esposa de Shiva, Párvatí, representa Shaktí, a natureza ilusória, na qual estamos todos imersos e deslumbradamente presos. Parvatí, símbolo de matéria perecível dá a Ganêsha um corpo físico e este, no entanto, não permite a entrada do pai na gruta, pois não o reconhece; afastou-se tanto que não mais conhece o próprio self, a realidade suprema. Tanto apego à mãe, simbolizada pela matéria (Shaktí) o faz defendê-la bravamente contra os avanços do pai, simbolizado pela essência primeva (Shiva). Vinayaka luta com Shiva pois não quer perder sua personalidade, moldada pela vivência fenomênica de Parvatí. Shiva decepa a cabeça (ego, mente, arrogância) de Vinayaka e insere uma nova no lugar. Esta nova cabeça do paquiderme representa o renascer daquele que está em busca do autoconhecimento, o alvorecer do mais puro e profundo entendimento de si próprio. Ganêsha acaba por se tornar um símbolo perfeito da inteligência e memória (cabeça de elefante), da prosperidade (corpo redondo e ventre proeminente), da predileção ao escutar do que falar (orelhas grandes e boca pequena), do discernimento (tromba), do removedor de obstáculos (tamanho), daquele que transcendeu o mundo dos opostos (por ter uma de suas presas quebrada). 


Fábio Euksuzian
Texto extraído de seu livro Contos de Shiva.
www.universoyoga.org.br


quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

A verdade sobre a intuição



 
 
Você já ouviu falar em intuição? Garanto que sim. Mas sabe exatamente o que é? Posso quase garantir que não. Não que eu ache que sei de tudo, mas esse termo muitas vezes é usado de maneira errada. Não é algo desenvolvido só pelos monges budistas.

Cada um tem sua própria intuição. Alguns mais, outros menos.

Então vamos lá tentar explicar o que é isso. Sabe quando você está saindo de casa, fechou a porta e de repente vem um pensamento assim: “Estou esquecendo alguma coisa...” E, na mesma hora você pensa: “Ahh, bobagem.” Quando chega ao seu destino descobre que esqueceu a carteira em casa. Se isso já aconteceu com você, sabe do que estou falando. Se não aconteceu, talvez deva treinar mais a sua intuição, ou apenas deixá-la se mostrar.

Pensando no primeiro caso, se sabe do que estou falando, e acontece mais uma vez, talvez depois do pensamento vir tenha raciocinado e concluído: “Não, não é possível, peguei tudo, tenho certeza.” E, novamente, chega ao seu destino e descobre que esqueceu os documentos do carro. Notou que houve um confronto entre esse tal “pensamento” e o seu raciocínio lógico? Pois é. É assim mesmo.

A intuição não é algo que possamos concluir ou analisar. Está acima da linha do raciocínio. Ainda, quando você tenta pensar demais, atrapalha e acaba com a intuição. Isso pode acontecer com quem é uma pessoa muito racional. Para explanar melhor, já tentou decidir algo quando está muito nervoso ou emocionado? Parece que há um turbilhão, um furacão nos seus pensamentos e nenhuma conclusão sensata aparece. Por isso, a sua mãe diz: “Espere a poeira baixar, não decida nada agora.” O que acontece é que nesse caso, as suas emoções atrapalham o trabalho da mente. No caso da intuição, é a mente que atrapalha.

Por mais que na maioria das vezes a gente não ouça essa tal intuição, vamos tentar, vai dar certo. Quem sabe você não descobre que ela pode te ajudar mais do que imagina? Assim como alguns famosos cientistas que diziam já saber o resultado antes de pensar na solução, a partir daí só bastava explicar o caminho até o resultado.

“Eu penso 99 vezes, e nada descubro; eu deixo de pensar e mergulho num grande silêncio, e eis que a verdade me é revelada.”
Albert Einstein

“Estou dizendo que devemos confiar em nossa intuição. Acredito que os princípios da evolução universal nos são revelados por nossa intuição. Eu acho que se nós combinarmos nossa intuição e nossa razão, nós poderemos responder de forma seguramente evolucionária a nossos problemas.”
Jonas Salk, cientista, descobridor da vacina contra poliomielite.


Marjorie Meyer
marjoriemeyer.blogspot.com


quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Ser leitor



 
 
A leitura é muito mais do que uma simples relação dos olhos com os livros...
A leitura é um espaço, um lugar predileto, uma luz escolhida,
um ritual em que importa até a época do ano.

Luis García Montero

Há muitos livros para ler. Seleccionar um livro, por uma questão de disponibilidade de  tempo de vida, implica deixar de ler outros. Já que cada simples leitura desencadeia uma série de pensamentos e influências no leitor, é importante escolher bem as obras que se vão ler, e más ainda as que serão relidas.

Acostume-se a ler com papel e lapiseira sempre à mão, para registar os fragmentos que mais lhe interessem e as ideias que apareçam. As ideias que possam surgir durante uma leitura, que possam ser disparadas pelas palavras do livro em combinação com os pensamentos do leitor. Por isso desprendem-se da própria leitura no instante em que esta se realiza, e se não se registam no momento, podem se perder na memória até novo aviso.

Há leitores que utilizam esse método; outros vêm ao próprio livro como um caderno de anotações. Muitos exemplares acabam sendo assim livros escritos por várias mãos, com tintas de diferentes cores, em distantes épocas e lugares.

Ao ler, a produção de imagens visuais que se desenvolvem -algo assim como um filme mental que reproduz a leitura - estimula o trabalho cerebral. Este pode limitar-se a recriar o que está recebendo, ou pode disparar uma série de novas associações de pensamentos, transformando-se numa fonte de conhecimentos intelectuais. Por isso, ser leitor é característica de todo escritor.

Aprenda a apreciar a leitura, para logo a poder gerar esse sentimento nos outros.


Anahí Flores
Tradução ao português: Sonia Monteiro.