Este blog foi montado com o intuito de retratar experiências de professores de SwáSthya Yôga que dedicam suas vidas a praticar, ensinar e difundir esta fantástica filosofia de vida.



terça-feira, 8 de julho de 2008

Respiração e emoção



Um corpo saudável e forte necessita de alguns cuidados. Há um tripé fundamental para uma saúde significativa e uma qualidade de vida razoável: boa alimentação, atividade física moderada e felicidade.

Hoje vamos trabalhar com a alimentação. Mas o nosso assunto não é respiração? Pois bem, o corpo humano é alimentado de energia biológica que, no Yôga, chamamos de prána. Essa bioenergia é que movimenta. Um indivíduo com uma quantidade significativa de prána terá uma boa saúde, será ativo, realizador e aproveitará a vida numa dimensão superior.

Nós retiramos a bioenergia, prána, do sol, dos alimentos, da água e do ar.

Portanto, boa alimentação, do ponto de vista de Yôga, significa ingerir alimentos bons para o organismo, beber água em quantidade e qualidade excelentes e respirar ar puro e de forma que o organismo possa maximizar a absorção de bioenergia. A qualidade do ar não está ao nosso alcance imediato, pois a vida das grandes metrópoles implica numa certa dose de poluição do ar. Entretanto, a respiração adequada de forma a absorver a maior quantidade de bioenergia está disponível para qualquer um. São as técnicas respiratórias do Yôga que chamamos de pránáyáma. Ao quebramos a palavra, temos prána cujo significado é alento, força vital, energia, vitalidade; e áyáma cujo significado é expansão, intensidade. Ou seja, pránáyáma é a expansão da bioenergia através de técnicas respiratórias.

Por outro lado, a respiração é um processo consciente e inconsciente ao mesmo tempo. Respiramos vinte e quatro horas por dia sem que percebamos, porém podemos influir no ritmo respiratório. Portanto, a respiração é um elo de ligação entre as funções conscientes e inconscientes do ser humano.

Cada estado emocional possui um ritmo respiratório característico. Se estivermos dormindo, a respiração é abdominal e lenta. Se estivermos agitados, estressados, a respiração é superficial e torácica. Se estivermos em estado de vigília, a respiração tenderá a ser completa. Nesses estados emocionais, o ritmo respiratório é ajustado inconscientemente.

Certas características da personalidade humana manifesta-se também na respiração. Pessoas tímidas ou medrosas tendem a ter uma respiração superficial. Elas não conseguem expor-se ao ambiente e interagir com ele de forma ampla. Ou seja, há um padrão normal de respiração para cada indivíduo dependendo das características pessoais.

Toda a tensão emocional é materializada, no plano físico, com uma contração muscular. Estados duradouros de tensão emocional refletem-se em estados duradouros de contração muscular. Reich denominou esse fenômeno de couraça do caráter. Quanto maior a tensão emocional, maior é a couraça do caráter e mais superficial será a respiração. Entretanto, os efeitos da emoção na respiração podem-se notar, de maneira mais intensa, por ocasião de um fato especial. O encontro, por exemplo, com uma grande paixão. O coração acelera, o rosto esquenta, as mãos e os pés gelam e a respiração fica acelerada. Características semelhantes acontecem com um grande susto ou uma situação muito estressante.

Os estados emocionais afetam a respiração e o contrário também é verdadeiro: a respiração afeta as emoções. Essa é uma chave fundamental. Se a timidez leva à uma respiração superficial e eu desejo vencer a timidez, posso utilizar uma respiração profunda. Portanto, uma das maneiras de administrar as emoções é a utilização de técnicas respiratórias.

Se as emoções se processam a nível inconsciente e provocam uma respiração determinada, a respiração consciente em determinado ritmo, leva a estados emocionais compatíveis. Entretanto, a respiração afeta não só as emoções, mas também os estados mentais. O fluxo do pensamento é determinado também pelo fluxo respiratório. Ou seja, respirar corretamente produz diversos efeitos: há aumento significativo da bioenergia; as emoções são facilmente administradas; e a mente fica serena.

O Yôga possui as retenções com ar e sem ar. Se as emoções e a mente são vinculadas ao fluxo respiratório, se pararmos de respirar temporariamente, nas retenções com ar ou sem ar, o fluxo das emoções e do pensamento também páram. Quando isso acontece, estados superiores de consciência manifestam-se. São os respiratórios do Yôga (pránáyámas) que trabalham ritmo com retenções com ar e sem ar.

Outro respiratório muito utilizado no Yôga é a respiração do sopro rápido que leva a uma hiper-oxigenação do sangue. Quando bombeamos muito oxigênio no sangue, há oxigênio nos músculos. Com isso, há uma descontração generalizada. Se as tensões emocionais levam a contrações musculares, a hiper-oxigenação leva ao relaxamento generalizado dos músculos e, como conseqüência, relaxamento das tensões emocionais.

As técnicas que aumentam a taxa de oxigênio no sangue também estimulam a kundaliní e os chakras, pois aumentam a energia biológica. Com o estímulo dos chakras o indivíduo adquire saúde excelente e desenvolve os poderes interiores. Com o estímulo da kundaliní, o indivíduo atinge estados superiores de consciência e o conhecimento completo de si mesmo e da natureza.

Veja que tanto as técnicas que aumentam significativamente o oxigênio do sangue, bem como os respiratórios ritmados com retenções com ar ou sem ar são úteis para o ser humano. Para utilizar de maneira eficaz, o praticante deverá procurar um instrutor de Yôga formado para trabalhar os dois elementos de forma segura e eficaz. Isso por que, as grandes retenções com ar e, mesmo as não tão longas retenções sem ar, reduzem significativamente o oxigênio do sangue. Se isso não for bem dosado, poderá provocar conseqüências não agradáveis. Portanto, não se aventure por conta e risco, se não estiver seguro do que está fazendo. Nessa matéria, somente ensinaremos técnicas seguras.

Os resultados aparecem de imediato? Quando você faz uma prática de respiratórios e faz respirações profundas, você altera os estados emocionais e mentais. É só parar de fazer o respiratório (pránáyáma) e a respiração volta a ser a mesma. A razão é simples: se você respirou de forma incorreta por vinte e dois anos, não é em uma prática que esse ritmo é restabelecido. Mas o caminho é esse. Você respira bem durante a prática. Com a repetição da prática, aos poucos, a sua respiração correta cada vez mais passa a fazer parte da sua vida. É bom frisar que não há magia. O resultado depende da prática constante, contínua e freqüente.

Para o desenvolvimento adequado das técnicas respiratórias, o correto é você encontrar um instrutor de Yôga formado. Porém, há técnicas simples que podem ser executadas sem qualquer risco e excelentes resultados.

O livro Faça Yôga Antes que Você Precise do Mestre DeRose, internacionalmente reconhecido por ter resgatado o Yôga Antigo do inconsciente coletivo, relaciona cinqüenta e oito técnicas respiratórias diferentes. Entre elas temos respiratórios para ativar os chakras e a kundaliní. Esses respiratórios são para praticantes avançados.

Uma técnica simples, porém muito eficiente, é a respiração completa. Conhecido como rája pránáyáma. Sente-se numa posição firme e confortável. Inspire projetando o abdômen para fora, continue inspirando expandindo as constelas para os lados e dilatando a parte mais alta do tórax. Retenha o ar nos pulmões por alguns instantes. Expire soltando a parte alta, depois a média e finalmente a parte baixa dos pulmões. Faça essa respiração por dez minutos e vá aumentado o tempo aos poucos. Qualquer técnica respiratória tem de ser gostosa. Não pode produzir cansaço nem desconforto. A face deve manter-se serena e os batimentos cardíacos não podem acelerar.

Outra técnica interessante é executar o respiratório ritmado enquanto caminha. Você inspira em quatro passos. Retém o ar nos pulmões cheios por quatro passos. Expira nos outros quatro passos. Repita o ciclo enquanto caminha. Você pode ajustar o ritmo ao seu organismo. Se quatro for algo que leve ao desconforto ou falta de ar, você inspira em três passos, retém em três e expira em três. Ou seja, você pode aumentar ou diminuir o tempo de acordo com o seu ritmo biológico. Não poderá haver cansaço, falta de ar ou desconforto. Lembre-se sempre de respeitar o seu corpo. Não o agrida.

O antara kúmbhaka é um excelente respiratório. Sentado numa posição firme e confortável, você inspira expandindo o abdômen, as costelas e o alto do tórax em quatro segundos. Retém com os pulmões cheios contando oito segundos. Expira primeiro a parte alta, depois a média e finalmente a baixa em quatro segundos. É o respiratório ritmado. A proporção aqui ensinada é 1:2:1 (inspiração:retenção com ar:expiração), ou seja, o tempo de retenção com ar é o dobro da inspiração e o tempo da expiração é igual ao da inspiração. Outro ritmo interessante, porém mais avançado, é 1:4:2. Nesse caso, a retenção com ar é quatro vezes o tempo da inspiração e a expiração é o dobro do tempo da inspiração. Assim, por exemplo, se você inspira em quatro segundos, a retenção com ar é em dezesseis segundos e a expiração é em oito segundos. Nessa técnica, não há retenção sem ar. As retenções sem ar não devem ser feitas, sem o acompanhamento de um instrutor de Yôga formado.

O ritmo na respiração produz efeitos fantásticos. Um ritmo suave, cadenciado e fluido deixará as suas emoções e a sua mente, suave, cadenciada e fluida. A respiração ritmada detona qualquer estresse. Porém, o ritmo deve ser suave. Não deverá haver ruído e a respiração deverá ser, nesses casos acima, sempre nasais. Ou seja, o ritmo deve ser suave como uma pluma solta ao vento. Não poderá haver cansaço, transpiração, aceleração cardíaca ou desconforto. Qualquer desses sinais significa que você está exagerando na prática. Reduza o tempo de prática ou o ritmo dos respiratórios.

Além dos ritmos aqui ensinados, temos vários outros. Há as contrações de glândulas e plexos - os bandhas, as mentalizações e as canalizações energéticas. Para isso, faz-se necessária a bibliografia especializada. Uma excelente possibilidade é a prática orientada por CD. Há a Prática Básica do Mestre DeRose que ensina os fundamentos de dezesseis respiratórios diferentes.

O livro Pránáyáma do André Van Lysebeth, Presidente da Federação Belga de Yôga, é também um livro recomendado.


Clélio Berti



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