
Pouco tempo depois, em Florianópolis, Gustavo andava de bicicleta, por uma dessas ruazinhas que sobem e descem. Colocava toda a sua consciência na respiração, para poder pedalar para cima e para baixo, sem que o seu coração batesse a mil à hora. Ao chegar a uma falésia, frente ao mar, amarrou a bicicleta e caminhou até onde a terra termina. Sentou-se com os pés pendurados sobre o mar e procurou, na sua mochila, algo que levava sempre consigo. Abriu-o, justamente no ponto onde tinha terminado e mergulhou, num mundo pré-ariano, pré-vêdico, proto-histórico, entre os habitantes de uma antiga cultura. Ali estava DeRose esperando-o, para acompanhá-lo no seu passeio.
Alguns quilómetros acima da sua cabeça, um avião atravessava o céu e, no seu interior, Carlos escutava atentamente DeRose que lhe explicava um assunto desses que requerem a devida atenção: os diferentes planos do universo. Cada palavra captava o seu interesse e vibrava, simultaneamente, na sua mente.
Em Buenos Aires, Juliana entrava no cabeleireiro. Precavida ao máximo e sabendo que a sua marcação iria demorar, tinha levado consigo o seu recente amigo, que lhe descrevia receitas e truques para preparar, nessa noite, um bom prato sem carne.
Ao mesmo tempo, José esperava um cliente que estava atrasado, provavelmente devido ao trânsito em Madrid. Aproveitou esse tempo inevitável e que nunca se sabe quanto durará, para aprender formas de comportamento e boas maneiras que DeRose, uma vez mais, explicava com o seu habitual bom humor.
E indo para Oeste da mesma península, DeRose falava sobre a história do Yôga, simultaneamente, em várias cidades. Na hora do chá, em Lisboa, Joaquina escutava-o de forma atenta. Com a coordenação de um canon, as mesmas palavras iniciaram-se na cidade de Faro, um pouco depois, frente aos olhos bem abertos de Daniela.
DeRose encontrava-se também em Paris, saboreando um croissant e conversando sobre a ancestralidade do mantra ÔM, com Andreia.
Todas as partes de uma prática completa de Yôga eram transmitidas a Natália que apanhava sol, numa praia carioca, junto ao seu velho amigo DeRose.
Em uníssono, em países e continentes diferentes, DeRose reflectia sobre mantra, utilizando as mesmas e exactas palavras tanto para a Marianna, que prestava atenção sentada no sofá da sua casa, em Milão, como para Luciano, que o escutava, com entusiamo, enquanto tomava um café num bar, em Curitiba. Marianna e Luciano acompanhavam a mesma linha de pensamento, de forma simultânea, sem nunca chegar a sabê-lo.
Muito mais tarde, DeRose quase adormeceu, nas mãos de alguns leitores noctívagos que cabeceavam sobre as suas páginas.
Ele também aguarda, silencioso e brilhante, sentado em escritórios e bibliotecas em várias partes do mundo, com milhares de palavras compactadas no papel, esperando que leitores ávidos venham caminhar pelas suas páginas.
Anahí Flores
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