Este blog foi montado com o intuito de retratar experiências de professores de SwáSthya Yôga que dedicam suas vidas a praticar, ensinar e difundir esta fantástica filosofia de vida.



quinta-feira, 10 de julho de 2008

A arte de contemplar a vida



A contemplação é um ato que acompanha o ser humano desde tempos remotos. Os povos sedentários - que habitavam um único terreno e nele permaneciam por muito tempo – possuíam este importante hábito. Uma vez que não pretendiam se deslocar, dispunham do tempo que precisassem para se deslumbrar com as maravilhas do mundo.

Observando por um longo período tudo o que estava à sua volta, os antigos conseguiam atingir uma percepção mais aguçada do Universo. Pois chegar à essência das coisas depende de muita atenção focada sem ser influenciado por qualquer outro estímulo.

A cultura da contemplação começou a ser prejudicada a partir do momento em que os povos nômades foram ganhando mais espaço na Terra, entre 4400 e 2900 a.C. época em que os agricultores da Mesopotâmia, Egito e Noroeste da Índia sofreram três invasões de pastores das estepes ou povo Kurgo. Estabelecendo-se nos locais apenas o tempo em que as reservas naturais preenchessem suas necessidades, esses ambulantes não pensavam no longo prazo, seja para construir uma civilização ou muito menos para gerar riquezas e tecnologias. Preferiam adotar uma atitude mesquinha de tomar dos que não eram exímios na arte bélica. E foi justamente essa necessidade de deslocamento dos povos o primeiro motivo que fez a pressão do Tempo interferir em nossas atitudes cotidianas.

Com a atenção voltada para o passar das horas, a contemplação começou a ser deixada de lado e não ser mais muito bem vista nas sociedades. Afinal, observar animais por um longo período de tempo, por exemplo, poderia ser interpretado como uma perda desse precioso recurso. No entanto, os orientais nunca deixaram de lado o ato da contemplação. Uma demonstração clara são as técnicas de concentração praticadas tanto nas artes marciais quanto no Yôga antigo, o qual possui mais de 52 métodos de meditação. Os Indianos que criaram esta filosofia sabiam que a única forma de expandir a consciência é deter a atenção num único som ou símbolo por um longo período de tempo. É preciso cessar a atitude de julgar ou de analisar para apenas contemplar, isto quer dizer, observar com prazer.

Do lado de no ocidente, depois de ter perdido um pouco do seu valor, a contemplação voltou a ser enaltecida na cultura grega na época de formação da polis. Apesar de cultivarmos uma imagem de que os filósofos gregos são altamente racionais, na verdade, o que eles mais enalteciam em seus discursos era a contemplação. Conforme nos explica Hannah Arendt, filósofa e pensadora política alemã “Contudo, a enorme superioridade da contemplação sobre qualquer outro tipo de atividade, inclusive a ação, não é de origem cristã. Encontramo-la na filosofia política de Platão... O próprio enunciado aristotélico dos diferentes modos de vida, em cuja ordem a vida de prazer tem papel secundário, inspira-se claramente no ideal da contemplação.” Os Pensadores Gregos colocavam essa atitude acima de qualquer outra atividade, chegando ao ponto desses filósofos anunciarem que toda a atividade era dispensável, inclusive a política, que eles tanto contribuíram para melhorar. Revoltados com tais declarações, os administradores públicos induziram toda a população a se voltar contra eles chegando ao ponto de levarem Sócrates a julgamento, forçando-o ao suicídio caso não desdissesse o que havia afirmado.

Nos dias de hoje a observação de obras de arte pode ser considerado um sofisticado exercício de contemplação. Ao visitar exposições você percebe que o mais prazeroso não é fazer uma análise da obra, mas simplesmente ficar a frente dela e deixar-se invadir pela maravilhosa sensação que proporciona a parada das ondas mentais. A obra em si pode até não significar muito para nós e nem mesmo ser o que podemos julgar como bela, mas será de extrema valia para as nossas sensações se tentarmos chegar à essência da arte apenas observando-a com prazer. Trazer a atitude contemplativa para o nosso dia-a-dia é relacionar-se com o tempo da mesma maneira que aqueles que mais aproveitaram a existência, os antigos povos sedentários, que tinham a ampulheta da vida em suas mãos e que por isso entenderam o que realmente o Universo representa.



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