Este blog foi montado com o intuito de retratar experiências de professores de SwáSthya Yôga que dedicam suas vidas a praticar, ensinar e difundir esta fantástica filosofia de vida.



terça-feira, 26 de agosto de 2008

O que nos espera após a Era da Informação?




Em 1956, o sociólogo americano Daniel Bell detectou que naquele ano, nos Estados Unidos, o número de trabalhadores chamados de colarinhos-brancos havia ultrapassado o de operários. Ao perceber esse fato tão relevante advertiu: “Que poder operário que nada! A sociedade caminha em direção à predominância do setor de serviços.” Por isso, este ano é considerado por muitos estudiosos o início da Era da Informação. Peter Drucker, renomado consultor de empresas e autor de dezenas de livros sobre o tema, foi o primeiro a denominar assim o período histórico que vivemos até hoje. Mas Drucker acreditava que a Era da Informação tinha começado pelo menos 10 anos antes, com a atitude dos soldados americanos de, após voltar da II Guerra Mundial exigirem, ao invés de um emprego, colocações em universidades. Hoje isso pode parecer óbvio, mas na época foi marcante, visto que aqueles que voltaram da I Guerra aspiravam apenas um emprego estável. Por volta de 1945, o conhecimento estava começando a ser mais valorizado do que o trabalho manual.

Em 1980, Alvin Toffler, um dos mais influentes futurólogos do mundo, escreveu um livro denominado A terceira onda. A idéia central era que a humanidade havia passado por três movimentos de grandes transformações. A primeira onda – com o desenvolvimento da agricultura - a segunda onda - com a Era Industrial - e estava passando por uma terceira onda que ele chamou de Era do Conhecimento.

Toffler explica que, devido ao aumento na velocidade das mudanças, a tendência é que cada Era seja mais transformadora e também mais curta que a anterior. Considerando que o primeiro representante do Homo sapiens sapiens, o homem de Cro-Magnon, tinha aproximadamente 35.000 anos de existência e que a agricultura só foi descoberta há 12.000 atrás, permanecemos 23000 anos como caçadores e coletores na Idade da Pedra. Já a Era Agrícola durou menos da metade desse tempo, 11000 anos, e foi deixada para trás, com o início da produção Industrial, na segunda metade do século XVIII. Não obstante, o período em que a geração de riquezas veio prioritariamente da produção nas fábricas perdurou por apenas 200 anos abrindo espaço para a Era da Informação iniciada entre as décadas de 40 e 50 do século XX.

A primeira Era durou 23000 anos. A segunda 11000. A terceira 200.
Quanto tempo resistirá a Era da Informação? E qual será a próxima?

Todas essas grandes transformações são reflexos de vontades e desejos das pessoas. Somando-se estes anseios de cada indivíduo, criam-se as mudanças comportamentais, que fazem com que uma Era termine e dê início a uma outra. O início da Era Industrial, por exemplo, aconteceu num momento em que o homem começou a sentir necessidade de utilizar roupas mais confortáveis. Os ingleses foram os primeiros a perceberem isto e a ter infra-estrutura para produzir grandes fábricas de tear e distribuir seus produtos pelo mundo todo. Sabendo que são as vontades humanas que movem os mercados e geram essas grandes tendências, se cruzarmos a pesquisa do psicólogo Abraham Maslow sobre as necessidades humanas com as Eras de Toffler talvez tenhamos uma pista de para onde estamos indo.

A Pré-História

Quando a última Era Glacial, há 20.000 anos, nos tirou do nosso habitat natural que eram as árvores e caímos nesse território desconhecido chamado chão, nossa maior batalha era para mantermo-nos vivos. Éramos apenas alguns milhares de homo sapiens lutando pela sobrevivência. A caça se fazia necessária, pois nossa alimentação dependia diretamente do que conseguíamos caçar ou coletar. Tal como na escala das necessidades humanas de Maslow vivíamos o drama da primeira e mais básica das necessidades: as fisiológicas.


A Era Agrícola

Foi provavelmente uma mulher quem, há 12.000 anos, descobriu que se enterrássemos uma semente no solo, geraríamos frutos e comida sem necessidade de tanto esforço como acontecia com a caça. Desenvolvemos então a agricultura e, conseqüentemente, ampliamos nossa expectativa de vida. Afinal, a caça é uma atividade deveras arriscada, e ameaça até mesmo a vida do caçador mais experiente. Com aquela descoberta simples, mas revolucionária, a aldeã, havia suprido a segunda necessidade de Maslow: a de segurança.


A Era Industrial

A industrialização começou a aparecer no chamado século das luzes, o XVIII, e essa revolução surge de uma mistura de cientificismo, racionalismo e ironia. Vivíamos um momento de progressos em quase todos os campos científicos - na física, na filosofia, na biologia - e nas artes principalmente na música, período em que estiveram vivos ao mesmo tempo, Mozart, Beethoven e Haydn.

O desejo das pessoas era ganhar mais autonomia através do trabalho que gerasse riquezas, podendo assim suprir suas necessidades mais básicas. Tal como as demais Eras, a Industrial respeita a ordem das necessidades humanas do estudo de Maslow. Esta foi a primeira época em que tivemos a necessidade de trabalharmos em grandes grupos. O êxodo rural fez com que mais e mais pessoas se congregassem nas cidades. A massificação dos produtos e a produção em larga escala reforçavam a tendência da terceira das necessidades segundo Maslow: o agrupamento.

Essa Era, que se inicia timidamente na segunda metade do século XVIII e chega ao ápice por volta de 1850, pode realmente ser chamada de um período revolucionário já que nesta época a Inglaterra começa a produzir e exportar em grande quantidade diversos tipos de tecidos. Somente nessa década é que as pessoas se deram conta que toda a sociedade havia mudado. Nascia a Era Industrial.


A Era da Informação

Assim como aconteceu com a Era Industrial, em que somente depois de um século de existência é que as pessoas acordaram para as modificações que haviam acontecido no mundo, o mesmo vem acontecendo agora. Apesar de já estarmos há mais de 50 anos vivendo um novo paradigma social, a maior parte das pessoas não percebem isso e ainda mantém suas crenças alicerçadas no sistema antigo.

A Era da Informação está sendo mais do que uma mudança social. Ela é uma mudança na condição humana. Na nossa época, quantidade de esforço não significa mais resultado. Mãos calejadas não são mais sinônimo de trabalho honesto. Será a capacidade criativa e pensante, que sempre nos diferenciou dos demais animais, que determinará o sucesso das pessoas na economia mundial.

Para se ter uma idéia do delay na leitura dos acontecimentos globais, apesar do sucesso mundial de livros que tratam do assunto como O mundo é plano de Thomas Friedman e de muitos intelectuais colocarem a boca no trombone para falar disso, ao consultar a Wikipédia para obter informações para este artigo, me assustei ao me deparar com um texto de apenas três frases e ainda totalmente equivocadas a respeito da Era da Informação. Agora o que consta lá é contribuição nossa.

A característica da Era da Informação que mais salta aos olhos é que ela tem deixado de lado o mercado de massas para focar no indivíduo. A indústria e os serviços saíram da massificação para a customização, transferindo cada vez mais poder à individualidade. O valor de cada pessoa tem crescido muito nestes últimos anos. Hoje podemos acessar o site da Nike e montarmos nosso próprio tênis. Outro exemplo curioso é o filme Homem-Aranha que, ao ser exibido na Índia, teve o nome do herói trocado de Peter Parker para Pavitr Prabhakar (!), se passa em Mumbai ao invés de Nova York e o personagem não adquiriu seus poderes através da irradiação, mas por um ritual feito por um yôgin paranormal. Ou seja, personalizar para valorizar o indivíduo.

E isso bate mais uma vez com a teoria de Maslow, cujo estágio contempla a estima de cada pessoa.


O que teremos pela frente?

Todo período de transição de uma Era para outra gera atritos. Isso aconteceu com os primeiros agricultores que, tornando-se mais sedentários pela praticidade do cultivo da terra, reduziram seu espírito bélico e sofreram muitos saques dos povos mais bárbaros e menos desenvolvidos que ainda viviam da caça e da coleta. Mas foi somente com a expansão da agricultura para todos os povos que, uma vez estáveis em um único lugar, os homens conseguiram multiplicar a riqueza. A transição da Era Agrícola para a Industrial também gerou embates como a Guerra Civil dos Estados Unidos (1861-1865) na qual o sul mais conservador e voltado para a agricultura confrontou o norte sedento pela industrialização. A Era da Informação também sofre com a insistência em se manter paradigmas antigos. Observamos isto, por exemplo, na Indústria do petróleo que mantém um constante lobby para que sistemas mais inteligentes de energia não se propaguem no mundo. A sorte que temos é que o máximo que essas resistências farão é gerar atraso no processo, jamais detê-lo.

Podemos também prever que a Era da Informação criará empecilhos para que a próxima se sedimente. Provavelmente ela não aceitará que as pessoas possam viver com menos informações, que possam abrir mão de inovações tecnológicas e não aceitar que tudo o que é novo “eu preciso”.

Seguindo a linha de raciocínio, observamos que depois que o homem se alimenta e está saudável, ele busca segurança, uma vez seguro, sente a necessidade de fazer parte de algum grupo, posteriormente quer se destacar nesse grupo, e após ter preenchido todas essas necessidades, vai atrás da mais sofisticada das necessidades: sua auto descoberta, o imprescindível autoconhecimento que lhe possibilitara a plena realização pessoal.

Esse movimento já vem acontecendo em nossa sociedade. Hoje as pessoas têm valorizado mais a ética. Patrícia Aburdene, autora do livro Megatrends 2010, que aborda uma pesquisa sobre tendências do século XXI, conclui “ Surgindo das cinzas da crise, corrupção e desconfiança pública, ganha atração de milhões num movimento totalmente novo que visa revitalizar a ética e o espírito da livre iniciativa". Jovens escolhem seus trabalhos levando mais em conta a satisfação do que o ganho monetário.

Exploramos todas os cantos dos planeta, visitamos a Lua e agora, por meio de aparelhos, estamos futricando Marte. Contradissemos Demócrito (460 a.C. - 370 a.C.) e estudamos partículas menores que os átomos. Enfim, viajamos do infinitesimal ao infinito, sempre focados no que estava fora de nós mesmos. É compreensível que após essa imensa expansão façamos um movimento retrátil e comecemos a explorar o conhecimento que os indianos sempre viram como o mais importante - aquele que nos permita ser quem realmente somos, desatando as amarras de uma cultura que determina nossas ações e vontades para descobrirmos o que realmente nos agrada. Enfim, um conhecimento que proporcione felicidade acima de tudo.

Está chegando o momento de darmos o último passo na escada de Maslow, alcançar seu ápice, que por ser o último degrau, também será o mais difícil e talvez o mais duradouro. O que está por vir é mais profundo que as pesquisas tecnológicas de ponta, é mais sofisticado que os ultra-modernos aparelhos da NASA. O que temos para desvendar na próxima Era, tal como nos indica esse longo caminho que o homo sapiens sapiens vem percorrendo há pelo menos 35000 anos é que chegou a vez de preencher a última das necessidades de Maslow: o AUTOCONHECIMENTO.


Daniel De Nardi


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