Este blog foi montado com o intuito de retratar experiências de professores de SwáSthya Yôga que dedicam suas vidas a praticar, ensinar e difundir esta fantástica filosofia de vida.



terça-feira, 9 de junho de 2009

Astêya - a terceira norma ética de Pátañjali




Não roubar. De todo o Código de Ética do Yôgin, este talvez seja interpretado pela maioria das pessoas como o mais óbvio de todos os preceitos. Afinal de contas, o roubo é sempre condenável. Em todas as leis humanas (dharma), sejam elas jurídicas, religiosas ou mesmo aquelas dos costumes, o ato de roubar não é correto. No entanto, o que o yôgin deve sempre ter em mente é o fato de que muitas vezes, na sociedade, um roubo passa despercebido, isto é, uma ação ou atitude do yôgin pode não ser interpretada como roubo pela maioria das pessoas, mas mesmo assim, está ferindo o código de ética de codificado por Pátañjali.

Não é nossa intenção nesse caso mostrar o aspecto negativo de um crime de roubo, ou de apropriação indébita, ou coisas do gênero. Isto é um tema de fácil compreensão, o qual o leitor certamente já domina, e que portanto não requer maiores explicações.

Dessa forma, consideremos neste texto outras situações que colocam o yôgin à prova e que tornam a proposta do praticante em cumprir esta etapa dos yamas e nyamas uma tarefa menos simples.

O yôgin deve sempre tomar o cuidado para não se apropriar de idéias de terceiros. E dizemos que a precaução é necessária pois apesar de ser o Yôga uma filosofia estritamente prática, é natural que os praticantes sejam também estudiosos e que dediquem boa parte de seu tempo em leituras indicadas por seus Mestres. Conhecendo-se o fato de que um mesmo texto será interpretado de diferentes formas de acordo com o estágio de evolução do yôgin, é comum o hábito de reler várias e várias vezes o mesmo livro. Ora, esses conhecimentos passarão então a ser assimilados e registrados pelo estudioso. Não é difícil que um praticante menos atento se esqueça de que essas idéias e conceitos não são originariamente seus e que mereceriam ao mínimo uma citação.

Aproveitamos para citar neste momento que tudo o que está aqui escrito foi e é baseado nos textos e aulas do Mestre DeRose, em especial ao Código de Ética do Yôgin que consta como anexo em diversas obras de sua autoria. Da mesma forma, grande parte do que está aqui exposto vem dos anos de aprendizado com a Professora Dora Santos e sua equipe, exemplos fiéis da observância do referido código.

Note o leitor que estávamos nos referindo a uma ação involuntária, mas que ainda assim compromete a observância de astêya. Daí a importância que o yôgin deve dar para cada ação de seu dia a dia e não apenas às suas práticas. Cada detalhe é importante e pode comprometer toda a evolução conquistada ao longo de anos. E é por isso que o código de ética é considerado um alicerce. O yôgin deve ter esse código de ética enraizado em seu coração, tornando mais fácil a assimilação e observância das prescrições e proscrições.

Outro caso típico de infração do princípio de astêya sem a intenção de roubar é o exercício da profissão de instrutor de Yôga sem cobrar valores justos. Esta ação é condenável em todos os setores de uma sociedade, mas é infelizmente mais comum quando estamos tratando desta nobre filosofia milenar.

Isto porque uma grande quantidade de praticantes e estudiosos ou até mesmo de curiosos, trava algum contato com a prática e repleto de boas intenções decide passar isso adiante. É uma atitude louvável, mas que deve ser realizada observando-se alguns cuidados.

Primeiramente porque aquele que assume o compromisso de passar esses conhecimentos milenares a outras pessoas tem a responsabilidade de preservar a filosofia intacta, sem deturpações, com excelência técnica e muita fundamentação teórica. Ora, isso não é tão simples. São necessários muito estudo, tempo, dedicação, horas de prática e aprimoramento constante.

Para conseguir fazer tudo isso de forma irrepreensível é essencial que a pessoa em questão dedique todo o seu tempo nessa tarefa. E quando nos referimos a todo o tempo, não estamos falando apenas do tempo livre. É imprescindível que se trabalhe única e exclusivamente com o Yôga, para não dispersar tempo e energia. E se toda a dedicação do Yôgin estiver depositada neste trabalho, ele precisa tirar daí o seu sustento e o de sua família, com a dignidade que uma verdadeira fonte de irradiação de qualidade de vida merece.

Esse yôgin dedicado estará sendo lesado se uma outra pessoa, mesmo que com boas intenções, passe a dedicar uma pequena parcela de seu tempo para dar umas aulinhas de Yôga por preços vis, ou às vezes, até de graça. É comum que engenheiros, veterinários, músicos, advogados, e outros queiram compartilhar o pouco que aprenderam sobre Yôga dando aulas e ministrando práticas. É comum, mas não é correto. A menos que todos esses profissionais mencionados troquem definitivamente de profissão e se tornem instrutores de Yôga. Caso contrário, não terão as condições necessárias para ministrar aulas de qualidade, e ainda estarão roubando o sustento de um instrutor sério que se dedique exclusivamente à essa nobre e maravilhosa profissão.

Poderíamos escrever linhas e mais linhas com exemplos de ações aparentemente inofensivas que ferem diretamente o astêya. Mas como os praticantes de SwáSthya Yôga devem desenvolver o princípio da auto-suficiência, será muito mais válido que cada um sutilize suas percepções e identifique no seu cotidiano tudo o que pode estar gerando um karma negativo.

Isto pode ser um trabalho árduo a princípio, mas assim como o Yôga Antigo, torna-se extremamente prazeroso e estimulante à medida que tornamo-nos mais conscientes de nossas ações.


Daniel Tonet


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