Este blog foi montado com o intuito de retratar experiências de professores de SwáSthya Yôga que dedicam suas vidas a praticar, ensinar e difundir esta fantástica filosofia de vida.



quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Quem é o Mestre



Texto lido durante a cerimônia de formatura de instrutores de SwáSthya Yôga do dia 21 de novembro de 2008.  

O mestre é o cara que encontrou, no escuro, um caminho.

Mestre também é aquele que, ao chegar onde quer que o caminho leve, dissipa essa escuridão.

Se você vê uma luz no fim do túnel, é esse cara. Segurando uma lanterna. Lá na frente.

Não é ele que deve vir a você, mas você a ele. A ele, que já fez o caminho.

Ainda assim, se você insistir em olhar para as paredes do túnel, para o labirinto de escuridão, seja com medo - que paralisa - seja com a intenção de se envolver por elas, as trevas, o mestre continuará a chamar. Lá de longe.

Ele não pode puxá-lo, não pode laçá-lo, não pode prendê-lo. Como um mestre poderia ensinar a liberdade com tais recursos? Que tipo de aprendizado é aprendizado sem ser libertador e sem conter a liberdade em seus métodos?

O mestre não pode vender certezas. Pode tão somente, com a mão em concha, ofertar uma possibilidade. A primeira coisa que ele ensina, com isso, é a liberdade de aceitar ou não essa possibilidade. E o aluno, ainda que não a aceite, já terá aprendido algo. A liberdade de aceitar ou não.

O mestre pode apenas lançar mão do mesmo encanto que o encantou e que o fez chegar onde está. Não mais. O aluno escolhe o mestre. Não o contrário.

A dádiva de educar, assim, pode ser acompanhada da frustração de não ser ouvido. O mestre aprende a superar essa dor. Pois, às vezes, se está muito longe: o verdadeiro educador é vanguarda, ainda que ensine a sabedoria de um passado remoto.

O educador está sempre no front: seu conhecimento é como a mochila de um guerreiro, o equipamento de um soldado. E poucos gostariam de se oferecer às pedras da ignorância na linha de frente, como ele faz todos os dias.

Então, o verdadeiro mestre - não importa de que área do conhecimento - faz seu chamado. Alguns o ouvirão. Outros não. Certas sementes não germinam em alguns solos e, para cada solo, mesmo os pedregosos, há uma semente apropriada.

Alguns conseguirão ir aonde o mestre chegou. Poucos, muitos, não importa. Sentados em torno da fogueira, todos juntos, olharão para o caminho que trilharam. Verão que o mestre mostrou a vereda, mas cada um teve de deixar suas próprias pegadas nela.

E então é a vez de alguns desses alunos irem além. A hora de uma verdade que alguns - mais emotivos - acharão melancólica: os mestres também são necessários porque nós humanos somos finitos, não temos como perpetuar sozinhos, na linha do tempo, um conhecimento. Nossos prazos são muito limitados. A arte é grande, a vida pequena: projetamos nas gerações seguintes, os novos caminhos a serem trilhados e legamos, também a elas, a sabedoria que deve ser preservada intacta como um diamante.

É nesse momento que o mestre irá lhe passar às mãos o lume com que, durante tanto tempo, iluminou o túnel que você percorreu. E você entenderá, então, que, antes dele, um outro mestre fez esse mesmo gesto. E, antes desse, outro. E antes, ainda, outro. Até onde alcança a limitada compreensão humana acerca do passado.

E, finalmente, o mestre lhe apontará para onde acredita ser o caminho que faria. E, novamente, com a liberdade que você aprendeu desde o início desta jornada, você fará uma nova escolha.

E, sem medo, dará um novo passo. A jornada do conhecimento deve continuar.


Alessandro Martins



Nenhum comentário:

Postar um comentário