Este blog foi montado com o intuito de retratar experiências de professores de SwáSthya Yôga que dedicam suas vidas a praticar, ensinar e difundir esta fantástica filosofia de vida.



domingo, 12 de outubro de 2008

Auto-Mobilização





Esta semana estive pensando em como os “autos” estão na moda; até o Yôga que ensino se chama SwáSthya, termo sânscrito que significa auto-suficiência. Ligo a televisão e encontro dezenas de programas discorrendo sobre auto-sustentabilidade. Leio entrevistas com esportistas e, auto-superação é o ó do borógódó; banqueiros falam em auto-controle e eu mesmo corro atrás de auto-conhecimento. No entanto, gostaria de pedir um minuto de silêncio ou de interrupção da leitura para os 800 auto-móveis que invadem o Estado de São Paulo diariamente, nos fazendo crer que sejam um mal necessário, uma vez que não temos uma decente e segura malha de metrô que corte a cidade de cabo a rabo como a cidade de Paris e New York, as quais, diga-se de passagem, não possuem o tamanho nem o contingente da megalópole paulista. Fazendo uso dos neurônios, creio que a disseminação dos “autos” acontece por duas razões: embora a globalização tenha chego para ficar, com toda essa parafernália tecnológica, estamos cada vez mais auto-sustentáveis, presumindo que podemos viver em uma bolha de isolamento sensorial. Não obstante, em contrapartida, vejo a compreensão por parte das pessoas de que não podemos mais esperar para que as coisas sejam feitas ou modificadas. Em outras palavras, nós mesmos temos que tomar a direção dos fatos, pois pelo visto e pela espera, ninguém fará por nós. Fernando Pessoa escreveu de certa feita: “Pedras no caminho? Guardo todas. Um dia vou construir um castelo”. O que quero dizer, é que não importa se o que pudermos fazer seja pouco ou de ínfima efetividade diante do infindável buraco negro no qual nossa sociedade se encontra: sempre terá sido de valentia valia, sobretudo se cada um fizer a sua parte. Certa vez uma floresta estava em chamas e a fauna toda saiu em disparada. O leão avistou o pássaro, em seu esforço sobre-animal, indo e vindo com um balde cheio d’água em seu bico. O leão chamou a atenção dos outros animais para o fato, e todos gargalharam da ave. Lá de cima, ela bradou: “Pelo menos estou fazendo a minha parte!”

Microcosmos devem auxiliar o macro. Paremos de esperar auxílio de divindades ou de papai universo e mamãe natureza; das pequenas, faremos as grandes. As tentativas dos governantes parecem não ser suficientes, autênticas ou realistas. A sociedade está se mobilizando para cuidar de algo que é nosso, as leis dos homens e os recursos naturais. As mais eficientes mudanças são aquelas que partem de nosso interior, pois além de terem sido criações nossas e por isso mesmo, há uma grande probabilidade de terem sido necessidades que encontramos no meio do caminho, portanto, acreditamos nelas e isso, faz toda a diferença.

Tudo na natureza segue seu curso irrefreadamente. Há uma troca contínua, um círculo virtuoso, ação e reação, dar e receber, ir e vir, nascer e morrer, desenvolver e transformar-se... essa percepção é de maciça importância para nossa relação com ela e com nossas próprias vidas. Não podemos só sugar, extrair sem devolver as possibilidades de seu renascimento, é uma via de mão dupla. Muitas vezes, parecemos àquele adolescente mimado que só quer ser sustentado e nada dá em troca. Sustente-se meu amigo, pare de ser sustentado.

Há tempos que, em minha opinião, ser elegante (em todos os sentidos) é ser consciente. Grande parte das pessoas ainda dorme o sono da ignorância, absortos em sua flácida inconsciência, não se deparam com tudo o que está a sua volta. Ao içá-las ao patamar de consciência, o Yôga incita dentro delas o impulso de Eros, aquela chama de vida que estava esquecida em algum ermo local dentro de seus corações. Renasce o impulso para a curiosidade e a busca pela sua própria essência. Inicia-se um questionamento de tudo que se encontra a sua volta. Platão já dizia que uma vida não questionada não merece ser vivida. Ao seguir seu instinto pelo saber, sua consciência se expande em todas as direções, aumentando o seu grau de exigência e quase que paradoxalmente de tolerância com relação a tudo e a todos, pois além de reeditar a seleção em sua existência, também sente a necessidade de orientar àqueles que necessitam, pois começa a perceber que quanto mais aprende, mais percebe o quanto ainda não sabe. Esse incremento de consciência se estende ao ser, ao saber e até ao vestir. Entende-se que aquilo que se veste é também conseqüência de seus atos e uma extensão de quem você é realmente é. Antigamente, desfilar coberto com casacos de peles de animais era considerado chique e motivo de status. Talvez pelo desconhecimento ou pelo desinteresse da grande massa de como aquelas peles eram obtidas. Hoje, considera-se extremamente deselegante e de calibrado mau gosto fazer uso delas. E lavar carros em frente de casa? Recordo-me que quando era criança, lavar carro aos domingos a frente de nossas moradias era sinal de descontração prazerosa, socialização com os vizinhos, cuidado com seus pertences e para alguns, até mesmo, sinal de higiene. Atualmente, deixar a mangueira correndo solta é puro sinal de desconexão com o momento presente, é reacender aquele velho chavão de que nós, dentro de nosso egoísmo e falta de senso de perspectiva a longo prazo, não enxergamos além de nosso próprio umbigo. É o retorno daquele tacanho pensamento de que alguém resolverá, os outros darão um jeito... Só que nos esquecemos de que os outros somos nós mesmos. Afinal, quem pôs os políticos lá?
 
Fábio Euksuzian



Nenhum comentário:

Postar um comentário